A transformação da Praça Sete de Setembro, no Centro de Belo Horizonte, voltou ao centro do debate público após a aprovação da lei que permite a instalação de painéis luminosos nas fachadas dos edifícios do cruzamento mais emblemático da cidade.
A nova legislação despertou o interesse de grandes empresas e movimentou administradores de prédios, ao mesmo tempo em que dividiu opiniões entre especialistas em urbanismo e representantes do comércio local. Enquanto surgem propostas milionárias para explorar publicidade digital, questões relacionadas ao patrimônio histórico, à ocupação urbana e ao impacto no cotidiano da região seguem em discussão.
Este texto apresenta um panorama completo sobre as negociações, desafios, expectativas e controvérsias que envolvem a possível criação da chamada “Times Square de BH”.

A Disputa pelo Futuro da Praça Sete
Uma nova legislação passou a permitir a instalação de grandes painéis luminosos no ponto mais simbólico da capital mineira, abrindo espaço para propostas que chegam a R$ 7,5 milhões destinadas ao aluguel das fachadas dos edifícios da região. A mudança divide opiniões: enquanto arquitetos criticam a iniciativa, comerciantes veem nela uma oportunidade de revitalização econômica.
Com a alteração na lei municipal em março deste ano, empresas passaram a demonstrar forte interesse nas fachadas dos prédios da Praça Sete, cruzamento mais emblemático do Centro de Belo Horizonte. A autorização para usar as estruturas externas para publicidade digital trouxe ao debate a possibilidade de transformar o local em uma versão mineira da famosa Times Square, em Nova York.
A discussão ganhou força desde que começou a tramitar na Câmara Municipal. Profissionais de arquitetura e urbanismo afirmam que a prioridade deveria ser melhorar a iluminação pública e reduzir o fluxo de veículos, garantindo mais segurança aos pedestres. Já representantes do comércio acreditam que a chegada dos painéis poderia impulsionar o movimento e fortalecer o consumo na região.
Segundo a lei, apenas os quatro cantos da Praça Sete estão autorizados a receber esse tipo de instalação. A norma também exige que os painéis exibam diariamente uma hora de conteúdo gratuito destinado à Prefeitura, dividido em inserções de 30 segundos.
Esta reportagem aborda o andamento das negociações envolvendo a possível “Times Square de BH” sob os seguintes recortes:
• Propostas de até R$ 7,5 milhões por mês
• Três pedidos protocolados, três recusados
• Falta de aprovação dos órgãos de patrimônio
• Negociações entre prédios e empresas para liberar os projetos
• O que determina a nova legislação
💰 Propostas milionárias para o uso das fachadas
Com a lei já validada pela Prefeitura e pelos vereadores, síndicos e administradores relatam ter recebido propostas que chegam a R$ 250 mil por dia — o equivalente a R$ 7,5 milhões mensais — para a instalação e operação de publicidade digital nas fachadas. Algumas ofertas incluem ainda pagamentos sobre o faturamento e compensações para salas comerciais que venham a perder sua vista em função dos equipamentos.
Essa possível obstrução de janelas é uma das preocupações levantadas por arquitetos. Eles argumentam que o impacto visual pode desvalorizar unidades comerciais e até provocar a evasão de empresas instaladas nos edifícios.
Três propostas enviadas, três recusadas
Desde a sanção da lei, a Prefeitura de Belo Horizonte recebeu três pedidos formais para viabilizar os painéis luminosos na Praça Sete. Nenhum deles foi aprovado. A primeira solicitação foi registrada em 14 de março, poucos dias após a mudança legislativa, e outras duas chegaram no início de maio.
As propostas variam entre o uso de uma única fachada e a ocupação de vários edifícios da região. No entanto, todas foram consideradas incompletas pela Secretaria Municipal de Política Urbana (SMPU).
Falta de aval dos órgãos de preservação
De acordo com a SMPU, os documentos necessários para análise não foram apresentados, incluindo autorizações do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de BH (CDPCM-BH) e do Iepha-MG. Como muitos prédios do entorno são tombados ou possuem proteção histórica, o aval dessas instituições é obrigatório. Sem ele, não há licenciamento possível — e, por isso, ainda não existe previsão para que os primeiros painéis sejam instalados.
Prédios e empresas tentam acelerar o processo
Mesmo diante das negativas, tanto administradores quanto empresas interessadas seguem negociando. Há relatos de que a simples perspectiva de instalação dos painéis aumentou o valor de mercado de algumas salas comerciais após a aprovação da lei.
Um dos edifícios já possui um painel gigantesco — 35 metros de largura por 7 metros de altura — comprado e guardado no próprio prédio, aguardando apenas permissão oficial para ser fixado.
Para tentar superar os entraves, representantes de pelo menos seis edifícios se reuniram com o Executivo municipal em 16 de junho e criaram um grupo de trabalho. O objetivo é alinhar informações, esclarecer dúvidas técnicas e avançar de forma conjunta para atender às exigências legais.
Enquanto alguns condomínios já realizaram assembleias e formaram comissões internas para tratar do assunto, outros ainda analisam as propostas recebidas. Em um dos prédios, o tema foi levado ao conselho consultivo, mas ainda não há decisão final.
A Secretaria de Política Urbana afirma prestar apoio técnico e busca consolidar um projeto integrado, que envolva os quatro cantos da Praça Sete e respeite tanto o valor histórico quanto a modernização planejada do espaço público.
O que determina a lei da “Times Square” de BH
A Lei 11.828/2025, sancionada pelo prefeito Álvaro Damião, criou as chamadas “áreas de promoção da cidade”, zonas específicas onde regras mais flexíveis permitem publicidade em maior escala.
Para os painéis na Praça Sete, a legislação estabelece:
• Altura entre 3 e 40 metros
• Ocupação máxima de 30% da fachada
• Equipamentos com espessura inferior a 1,70 m
• Exibição de 1 hora de conteúdo gratuito diário à Prefeitura
• Não obstrução da sinalização de trânsito
• Garantia de acessibilidade para pedestres
• Aprovação obrigatória dos órgãos de patrimônio para prédios protegidos
Até agora, apenas a Praça Sete possui essa classificação, o que a torna o único local autorizado na capital para receber painéis luminosos desse tipo.

O Próximo Passo: Entre a Times Square Mineira e a Preservação do Centro Histórico
O debate sobre a instalação de painéis luminosos na Praça Sete revela não apenas uma disputa entre interesses econômicos, mas também uma discussão mais ampla sobre o futuro do Centro de Belo Horizonte. De um lado, comerciantes enxergam a proposta como uma chance de reaquecer a economia e atrair novos fluxos de visitantes; de outro, arquitetos e defensores do patrimônio alertam para os riscos de descaracterização e para a necessidade de garantir intervenções urbanas que priorizem os pedestres e preservem a história da cidade.
Enquanto propostas milionárias continuam sendo discutidas e empresas buscam maneiras de atender às exigências legais, o projeto permanece em suspensão. A decisão final — seja para aprovar, ajustar ou barrar as instalações — terá impacto direto no modo como a região será percebida e vivenciada nas próximas décadas.
Resta saber se Belo Horizonte caminhará para uma versão mineira de Times Square ou se seguirá outro modelo de revitalização urbana, mais alinhado ao equilíbrio entre modernização e memória.


