A Praça Sete de Setembro, conhecida simplesmente como “Praça Sete”, é um dos marcos mais emblemáticos de Belo Horizonte. Hoje ela pulsa como ponto de encontro, transporte e comércio, mas antes de se transformar na encruzilhada dinâmica que todos conhecem, o local abrigava uma atmosfera completamente diferente. Entre as décadas de 1920 e 1960, a praça foi moldada por bondes elétricos, elegância arquitetônica, cafés movimentados, cinemas grandiosos e edifícios que simbolizavam o espírito modernizador da capital mineira. Revisitar esse passado é mais do que uma viagem nostálgica: é compreender como Belo Horizonte se construiu como cidade.
Este post convida você a caminhar por essas décadas marcantes e descobrir como era a Praça Sete de Setembro antigamente, quando ela representava um dos grandes cartões-postais da vida urbana belo-horizontina.

🏛️ O Início do Século XX: A Praça Planejada
No início do século XX, a Praça Sete de Setembro antigamente representava com perfeição o espírito modernizador que guiou a construção de Belo Horizonte. Diferente de muitas capitais brasileiras que cresceram de maneira espontânea, Belo Horizonte nasceu planejada — e a Praça Sete, localizada no ponto mais estratégico do traçado urbano, era a síntese desse projeto ambicioso.
A praça foi concebida como um marco urbano central, resultado direto da visão dos engenheiros e urbanistas que projetaram a nova capital para substituir Ouro Preto. Com o encontro geométrico das avenidas Afonso Pena, Amazonas, Augusto de Lima e Cristóvão Colombo, criada em formato de “cruz axial”, a Praça Sete simbolizava ordem, progresso e modernidade — palavras que definiram a primeira fase da vida da cidade.
Os edifícios que cercavam a praça seguiam predominantemente o estilo eclético, típico do final do século XIX e início do XX. Fachadas ornamentadas com frisos, arcos clássicos, janelas emolduradas e varandas de ferro trabalhado compunham um cenário de elegância que contrastava com a paisagem mineira ainda em transformação. Essa estética era uma forma de afirmar que Belo Horizonte nascia mirando o futuro, acompanhando as tendências internacionais que moldavam grandes cidades como Paris e Buenos Aires.
A praça, nessa fase inicial, tinha uma atmosfera tranquila e contemplativa. Antes do domínio absoluto dos automóveis e ônibus, quem passava por ali era recebido pelo som característico dos bondes elétricos, introduzidos ainda nos primeiros anos da cidade. Esses bondes percorriam trilhos bem alinhados, transportando funcionários públicos, estudantes e famílias inteiras — muitos deles vestidos com seus trajes de domingo, aproveitando o passeio pelo Centro.
Os pequenos canteiros, ainda modestos, ofereciam sombra e descanso aos que transitavam pela região. Trabalhadores se sentavam por alguns minutos antes de retomar a rotina; jovens se encontravam para conversas rápidas; visitantes admiravam a simetria do traçado urbano. A praça era, sobretudo, um espaço de convivência, onde o ritmo da cidade era mais pausado e onde a vida cotidiana adquiria uma suavidade que hoje parece distante.
Nesse período, a Praça Sete não era apenas o marco central de Belo Horizonte: ela era a porta de entrada simbólica para uma cidade que surgia com ousadia, planejada para ser moderna desde o primeiro dia. Ali começava uma jornada urbana que lentamente ganharia contornos mais complexos, mais altos e mais movimentados — mas que sempre carregaria, em seu coração, essa origem elegante e organizada.
⛲ O Obelisco e a Efervescência dos Anos 20
A década de 1920 marcou um dos períodos mais transformadores da Praça Sete de Setembro antigamente. Foi nesse momento, em 1922, que o espaço ganhou seu símbolo mais duradouro: o Obelisco, construído em granito em comemoração ao centenário da Independência do Brasil. Sua instalação no ponto exato onde se cruzam as quatro principais avenidas de Belo Horizonte não foi obra do acaso. O monumento surgia não apenas como homenagem patriótica, mas como afirmação da modernidade e do orgulho cívico da jovem capital mineira.
O impacto do Obelisco da Praça Sete de Setembro foi imediato. Ele reorganizou o olhar dos cidadãos sobre a praça, tornando-se um marco visual e simbólico. Era em torno dele que as pessoas se encontravam — amigos marcavam horários “debaixo do Obelisco”, casais combinavam encontros discretos, e crianças brincavam em sua sombra enquanto observavam o movimento incessante dos bondes que passavam próximos aos trilhos centrais.
A presença do monumento ajudou a intensificar a vocação urbana da praça, que, naquele período, testemunhava um crescimento acelerado da vida social e cultural. A região do Centro começava a atrair uma nova elite intelectual, artística e comercial que via em Belo Horizonte uma cidade vibrante e promissora. Em meio a essa efervescência, o entorno da Praça Sete se tornou palco de cafés refinados, confeitarias disputadas e lojas de moda que importavam tendências diretamente da Europa.
Foi também durante essa década e início dos anos 30 que a região recebeu um dos mais icônicos símbolos culturais da cidade: o Cine Theatro Brasil, cuja construção começou em 1929 e culminaria, em 1932, na inauguração de um dos maiores palcos culturais de Minas Gerais. Antes mesmo de sua abertura oficial, o canteiro de obras já chamava atenção — e servia como símbolo do crescimento urbano que a Praça Sete vivia naquele momento.
A vida noturna começava a ganhar força. Letreiros luminosos, até então novidade tecnológica, iluminavam a praça e davam a ela uma atmosfera cosmopolita, lembrando grandes metrópoles internacionais. Os estabelecimentos funcionavam até mais tarde, com mesas dispostas próximas às vitrines, convidando ao bate-papo leve, ao jornal aberto sobre o balcão e ao café forte servido em xícaras pequenas.
Nesse cenário movimentado, os bondes elétricos continuavam sendo protagonistas da paisagem. Eles cruzavam a praça em diversas direções, conectando bairros e trazendo uma cadência singular ao espaço urbano. A convivência entre bondes, pedestres elegantes e os primeiros automóveis — ainda raros, mas cada vez mais presentes — criava uma coreografia urbana única, onde o passado e o futuro dividiam o mesmo espaço.
A efervescência dos anos 20 transformou definitivamente a Praça Sete. De ponto de encontro tranquilo, ela passou a ser um dos centros mais dinâmicos da cidade, refletindo o espírito de modernidade, sociabilidade e progresso que caracterizou Belo Horizonte naquele período. O Obelisco tornou-se o símbolo dessa nova fase: firme, imponente e testemunha silenciosa da transição da capital para uma vida urbana mais intensa e culturalmente rica.

As Grandes Mudanças de Meio de Século
A chegada das décadas de 1940 e 1950 marcou uma virada decisiva na história da Praça Sete de Setembro antigamente. Se nos anos anteriores ela simbolizava a calma planejada e o charme urbano de uma capital jovem, esse novo período traria avanços, contrastes e transformações de grande impacto. A praça deixava de ser apenas um espaço de encontros tranquilos e se transformava no epicentro de uma Belo Horizonte que crescia rápido, buscava modernidade e começava a verticalizar sua paisagem.
A Transformação de Belo Horizonte e o Novo Papel da Praça
Nesse novo contexto, Belo Horizonte se expandia para além de seu núcleo inicial, e a Praça Sete assumia um papel ainda mais estratégico. Mais do que um cruzamento de avenidas, ela se tornava o ponto de pulsação da vida cotidiana: trabalhadores, estudantes, comerciantes e visitantes passavam por ali diariamente, num ritmo cada vez mais intenso e acelerado.
A praça deixava de ser contemplativa para se tornar funcional, refletindo a mudança natural de uma cidade que dobrava sua população e ampliava suas fronteiras urbanas.
O Impacto do Edifício Acaiaca no Horizonte da Praça
A mudança mais expressiva desse período surgiu com a construção do Edifício Acaiaca, inaugurado em 1943. A torre de 120 metros, com estética art déco e presença imponente, alterou de forma definitiva o horizonte da cidade. Onde antes predominavam edificações baixas de estilo eclético, o Acaiaca se impunha como símbolo incontestável da modernidade.
Para muitos moradores da época, o surgimento de um prédio tão alto no coração da cidade foi motivo de assombro e admiração. O Acaiaca substituía o céu aberto por linhas verticais arrojadas, marcando o início da verticalização de Belo Horizonte e redefinindo a própria identidade visual da Praça Sete.
Comércio em Expansão e Vida Urbana Intensificada
O entorno da praça acompanhou a transformação. Com novos prédios, surgiram também novos negócios: grandes lojas de departamento, cafeterias modernas, papelarias, relojoarias, alfaiatarias, sapatarias e estabelecimentos especializados em eletrodomésticos — produtos que começavam a simbolizar o progresso doméstico da época.
A vida comercial se intensificava, e a Praça Sete se tornava ponto obrigatório para quem buscava novidades. A circulação de pessoas triplicou em poucos anos, e o Centro assumiu o papel de vitrine principal das tendências da vida urbana belo-horizontina.
A Evolução dos Transportes e a Mudança do Ritmo Urbano
A mobilidade urbana também vivia um momento crucial. Os tradicionais bondes elétricos, que por décadas haviam definido a paisagem sonora e visual da praça, começaram a dar lugar aos ônibus, que se mostravam mais rápidos, mais versáteis e mais alinhados às novas demandas de transporte.
Essa transição alterou profundamente o ritmo da praça. O tilintar dos bondes foi substituído pelo ronco dos motores, pelas buzinas constantes e pelo movimento crescente de veículos particulares. A Praça Sete tornou-se um dos pontos de maior fluxo da cidade, exigindo adaptações viárias, alargamento de calçadas e reorganização do trânsito.
O que antes era cenário de passeios tranquilos transformou-se em uma coreografia urbana mais rápida, mais intensa e mais exigente.
O Obelisco: Guardião da Memória em Meio às Mudanças
No meio dessa turbulência modernizadora, o Obelisco permanecia firme, como se fosse o guardião da memória da praça. Enquanto os arranha-céus surgiam, os bondes desapareciam e a cidade acelerava, o monumento mantinha seu papel simbólico, lembrando a todos que a Praça Sete tinha raízes profundas na história da cidade.
Para quem vivia a transição, o Obelisco era uma âncora emocional: um ponto fixo num cenário que se transformava rapidamente.
A Nova Identidade da Praça Sete
No final desse período, a Praça Sete já não era a mesma. Ela havia se transformado num espaço mais dinâmico, mais comercial, mais verticalizado e mais integrado à mobilidade urbana. A praça que antes era palco de encontros e caminhadas passou a ser um grande nó de circulação, estabelecendo seu papel como o verdadeiro centro vital de Belo Horizonte.
As mudanças das décadas de 40 e 50 moldaram profundamente a Praça Sete, deixando marcas que ainda hoje podem ser percebidas. A verticalização, o aumento do trânsito, o crescimento do comércio e a modernização da vida urbana transformaram o local num símbolo da evolução da capital mineira. E, ainda assim, mesmo com o ritmo frenético e a aparência contemporânea, basta um olhar mais atento para perceber que a memória do passado continua ali: no Obelisco que permanece firme, nas sombras lançadas pelo Acaiaca, no desenho das avenidas e nos relatos preservados por quem viveu aquela época.
A Praça Sete não apenas acompanhou o crescimento de Belo Horizonte — ela cresceu com a cidade, reinventando-se sem perder sua essência histórica.
📚 Comparando o Passado e o Presente
A Praça Sete de Setembro sempre foi um espaço onde diferentes épocas se encontram. Comparar o passado e o presente desse cruzamento emblemático é como observar duas versões da mesma cidade, cada uma com sua própria personalidade, ritmo e atmosfera. No início e meados do século XX, a Praça Sete era marcada por uma elegância tranquila. As avenidas ainda não eram dominadas pelo transporte coletivo e pelos automóveis, e os pedestres tinham prioridade absoluta na paisagem urbana. As pessoas circulavam sem pressa, conversavam longamente, liam jornais ao lado das vitrines e observavam o vai-e-vem dos bondes elétricos, cuja presença não apenas transportava moradores, mas também ditava o ritmo da vida cotidiana com seu tilintar característico.
O ambiente era composto por edifícios de menor altura, fachadas ecléticas, luz natural abundante e o charme das confeitarias europeias que dominavam a cena gastronômica do Centro. O Cine Theatro Brasil, com sua arquitetura art déco e programação variada, era um ponto fundamental na vida cultural de Belo Horizonte, atraindo públicos elegantes para a região. Havia mais espaço, mais silêncio e um tempo que parecia passar de forma mais gentil, menos urgente.
Hoje, porém, a Praça Sete apresenta um caráter completamente diferente. O local tornou-se um dos maiores hubs de mobilidade urbana da cidade, com ônibus, carros, motos e milhares de pedestres cruzando o espaço a todo momento. O ritmo é acelerado e contínuo. O comércio popular domina a paisagem, trazendo faixas coloridas, vitrines chamativas e vendedores ambulantes que compõem um mosaico vibrante e intenso. A verticalização do Centro, simbolizada pelo imponente Edifício Acaiaca, transformou a sensação espacial da praça, tornando-a mais fechada, urbana e movimentada.
Se antes predominava o som metálico dos bondes, hoje são as buzinas, o ronco dos motores e a circulação incessante que definem a praça. Ainda assim, apesar das mudanças tão marcantes, há elementos que permanecem e que ajudam a manter viva a memória da Praça Sete de outros tempos. O Obelisco, inaugurado em 1922, continua firme no centro do cruzamento, servindo como um elo simbólico entre gerações. O Cine Theatro Brasil, restaurado e transformado em centro cultural, segue ocupando o mesmo ponto da Avenida Amazonas. E o próprio Acaiaca, que um dia representou a modernidade absoluta, hoje se tornou um monumento histórico, parte inseparável da identidade visual da cidade.
Comparar o passado e o presente da Praça Sete é perceber que Belo Horizonte mudou, modernizou-se e acelerou seu ritmo, mas não apagou completamente suas raízes. As memórias dos bondes, dos cafés elegantes e da tranquilidade de outras décadas ainda ecoam no imaginário coletivo. Mesmo em meio à pressa atual, basta um olhar mais atento para perceber que o passado continua ali, inscrito nas fachadas, nas histórias contadas pelos mais velhos e na presença inabalável do Obelisco. A Praça Sete é, hoje, um espaço onde o ontem e o agora se encontram diariamente, lembrando a todos que a cidade se transforma, mas nunca deixa de carregar consigo as marcas do tempo.

Memória, Patrimônio e um Convite à Imaginação
A história da Praça Sete de Setembro é, em grande medida, a história da própria Belo Horizonte. Cada década deixou marcas visíveis e invisíveis naquele cruzamento, fazendo com que o espaço se tornasse uma espécie de livro aberto, onde diferentes capítulos da vida urbana mineira podem ser lidos, interpretados e lembrados. A praça que um dia recebeu bondes silenciosos, cafés elegantes, confeitarias famosas e vitrines sofisticadas é a mesma que hoje acolhe trabalhadores apressados, ônibus em circulação constante, letreiros vibrantes e um comércio dinâmico que acompanha o ritmo acelerado da cidade. Nada ali permanece exatamente como antes, mas tudo ali carrega vestígios do que já foi.
O Obelisco, firme no centro da praça desde 1922, talvez seja o maior símbolo dessa permanência. Ele atravessou a chegada dos primeiros automóveis, testemunhou o nascimento do Cine Theatro Brasil, viu o Acaiaca surgir imponente no horizonte, acompanhou as mudanças no transporte, observou o desenvolvimento econômico do Centro e resistiu ao tempo como um marco físico e afetivo. Para muitos belo-horizontinos, o Obelisco não é apenas um monumento: é uma lembrança, um ponto de encontro, um pedaço vivo da memória coletiva.
Observe o Obelisco, as linhas das avenidas, os detalhes antigos dos prédios, o movimento contínuo. Permita-se imaginar os tempos em que os bondes ainda circulavam, em que o céu parecia mais aberto e em que a praça era ponto de encontro, contemplação e elegância. A história ainda está ali — basta deixá-la emergir.
