Obelisco da Praça Sete de Setembro

O Obelisco da Praça Sete de Setembro, mais conhecido como “Pirulito”, é um dos marcos mais reconhecíveis, afetivos e icônicos de Belo Horizonte. Para muitos, ele não é apenas um monumento: é um ponto de partida, de encontro e de identidade. Localizado no cruzamento das avenidas Afonso Pena e Amazonas, no coração pulsante da capital mineira, o Obelisco se tornou, ao longo de um século, a referência visual que orienta moradores, turistas e gerações inteiras.

Ao caminhar pela Praça Sete, é impossível ignorá-lo. Ele surge entre o tráfego intenso, os prédios históricos e a energia urbana, permanecendo como testemunha de um século de mudanças, celebrações, tensões, criação cultural e cotidiano. Mais do que um objeto de granito, o Pirulito é um símbolo de pertencimento — um monumento que diz muito sobre a identidade de BH e sobre como a cidade se construiu em torno dele.

A seguir, mergulhamos em sua história, seu significado e sua trajetória, revelando por que o Obelisco da Praça Sete é tão importante para a memória e para a vida de Belo Horizonte.

🧭 O Nascimento do Marco Zero

A origem do Obelisco da Praça Sete de Setembro está profundamente ligada à construção da identidade de Belo Horizonte como capital moderna e planejada. Para entender seu nascimento, é preciso voltar ao ano de 1922, quando o Brasil celebrava o Centenário da Independência. O país vivia um momento de afirmação nacional, e muitas cidades buscavam marcar presença nesse marco histórico por meio de monumentos oficiais, símbolos arquitetônicos e projetos urbanos que refletissem progresso e modernidade.

Belo Horizonte, inaugurada em 1897, ainda era uma capital jovem. Seu surgimento foi fruto de um dos projetos urbanísticos mais ambiciosos da Primeira República, idealizado por Aarão Reis, que concebeu uma cidade geométrica, ampla, organizada e inspirada em modelos europeus e norte-americanos. Apesar disso, a cidade carecia, nos primeiros anos, de elementos simbólicos que reforçassem sua identidade visual e sua função como centro político-administrativo do estado de Minas Gerais.

Foi nesse cenário que a prefeitura decidiu instalar um monumento que homenageasse o Centenário da Independência e, ao mesmo tempo, desse à cidade um marco referencial permanente. Escolheram como local o cruzamento das avenidas Afonso Pena e Amazonas, não apenas por sua posição central, mas porque esse ponto já havia sido determinado no plano urbanístico original como o centro geométrico da nova capital.

A instalação do Obelisco naquele local também tinha outra função essencial: consolidar a Praça Sete como o ponto mais importante da cidade. A praça já era o epicentro da vida urbana desde os primeiros anos, por onde circulavam trabalhadores, comerciantes e autoridades, e onde convergiam as principais linhas de bondes. Posicionar ali um monumento monumental reforçava sua relevância e a projetava simbolicamente como o Marco Zero de Belo Horizonte.

Esse título — Marco Zero — significa mais do que um ponto físico. Em cidades planejadas, ele representa o “ponto de origem”: a referência a partir da qual distâncias são medidas, avenidas são organizadas e o fluxo urbano se estrutura. O Obelisco, ao assumir esse papel, tornou-se imediatamente um símbolo urbano de grande peso, ecoando a lógica de cidades como Washington, Paris e Buenos Aires, que também possuem marcos centrais que organizam seus eixos urbanísticos.

A escolha do formato do monumento reforçava ainda mais essa intenção. O obelisco, uma forma milenar adotada pelo urbanismo ocidental, transmite valores como permanência, verticalidade, clareza e direção. Sua estética simples e monumental se adequava perfeitamente ao ideal de cidade racional e moderna que Belo Horizonte buscava representar.

O nascimento do Obelisco, portanto, não foi apenas um gesto comemorativo ou decorativo. Representou uma declaração pública de identidade: Belo Horizonte afirmava-se como uma capital estruturada, planejada e alinhada com os ideais republicanos de ordem, progresso e modernização.

E desde aquele momento, em 1922, o monumento firmou sua presença como o ponto que sintetiza a vocação urbanística da cidade — o seu centro absoluto, onde história, arquitetura e vida cotidiana se cruzam.

🏛️ Arquitetura e Simbolismo

A arquitetura do Obelisco da Praça Sete de Setembro combina simplicidade geométrica, imponência visual e forte significado histórico, características que o tornaram um dos monumentos mais emblemáticos de Belo Horizonte. Embora não seja um obelisco gigantesco como os modelos europeus, sua presença no centro da capital mineira é marcante — sobretudo pela harmonização entre forma, materialidade e localização.

Feito em granito, um material resistente e duradouro, o monumento possui aproximadamente 7 metros de altura (estimativa amplamente citada em referências históricas). Essa altura, embora relativamente modesta para padrões internacionais, é mais do que suficiente para destacá-lo no cruzamento das avenidas Afonso Pena e Amazonas, onde o ritmo da cidade é intenso e a paisagem urbana é composta por edifícios altos, tráfego constante e um fluxo permanente de pessoas.

A forma do obelisco, inspirada nos monumentos do Egito antigo, foi amplamente incorporada pelo urbanismo ocidental, especialmente durante o movimento neoclássico dos séculos XVIII e XIX. Esse estilo valorizava a estética geométrica, a simetria e os símbolos de permanência — características que se alinham ao ideal republicano de ordem e racionalidade presente na fundação de Belo Horizonte.

Geometria que transmite força e direção

O obelisco é composto por um fuste vertical que se afunila suavemente em direção ao topo, culminando em uma ponta que parece apontar para o céu. Essa verticalidade transmite ideias de:

• ascensão e busca por progresso;
• estabilidade, pela solidez da base;
• continuidade histórica, pela forma que remete a civilizações antigas;
• modernidade, pela estética simples e direta.

Essa simbologia foi intencional. No início do século XX, muitas cidades planejadas utilizavam obeliscos para marcar eixos urbanos, homenagear eventos históricos ou simplesmente afirmar a modernidade de seus espaços públicos. Belo Horizonte seguiu essa tendência, reforçando sua identidade como cidade jovem, organizada e progressista.

O “Pirulito”: quando o monumento vira afeto

Embora seu nome oficial seja “Obelisco da Praça Sete de Setembro”, o monumento ganhou um apelido que se tornou inseparável de sua identidade: “Pirulito”. A população de Belo Horizonte adotou esse nome pela semelhança visual do obelisco com o famoso doce — uma haste vertical com topo arredondado.

Esse apelido carrega uma camada adicional de simbolismo cultural. Ele mostra como o monumento ultrapassou seu caráter formal e se transformou em um elemento afetivo da cidade. Não é apenas um ponto arquitetônico, mas um símbolo emocional, que o povo reconhece e integra ao cotidiano de forma espontânea e carinhosa.

Materialidade que resiste ao tempo

O granito utilizado na construção não foi escolhido por acaso. Além de ser um material nobre e durável, ele possui:

• excelente resistência a intempéries,
• manutenção relativamente baixa,
• textura marcante,
• aspecto visual sólido e permanente.

Essa escolha reforçou a intenção de criar um monumento que durasse décadas — e ele cumpriu seu papel. Mesmo com o trânsito pesado, a poluição e as mudanças urbanas constantes, o Obelisco permanece firme, com sua estrutura original preservada.

Um símbolo visual da cidade

Posicionado no ponto mais estratégico do Centro, o Obelisco se destaca não apenas pelo formato, mas pelo contexto. Ele está exatamente na confluência das duas avenidas mais importantes da cidade, funcionando como um eixo simbólico que organiza o espaço urbano. Essa função é amplificada pela movimentação constante ao seu redor: ônibus, transeuntes, carros, comércios, prédios históricos — tudo converge para esse ponto. E o monumento, silencioso e vertical, permanece como referência absoluta, um farol urbano que orienta e identifica.

Arquitetura como expressão de identidade

No fim, a arquitetura do Obelisco não é apenas sua forma externa, mas o modo como ele dialoga com a cidade. Ele representa a mistura de tradição e modernidade, de racionalidade geométrica e afetividade cotidiana. É, ao mesmo tempo, monumento histórico, símbolo urbano e ícone cultural — um dos poucos elementos que sintetizam tão bem a identidade visual e emocional de Belo Horizonte.

Por isso, falar do Obelisco da Praça Sete é falar da própria cidade: organizada, simbólica, vertical, histórica e profundamente acolhida pelo seu povo.

🌃 A Vida Turbulenta do Monumento

Embora hoje pareça imóvel e permanente no centro de Belo Horizonte, o Obelisco da Praça Sete de Setembro — o famoso “Pirulito” — percorreu uma trajetória marcada por deslocamentos, polêmicas, restaurações e intensas mudanças urbanas. Inaugurado em 1922, ele rapidamente se tornou o símbolo máximo da jovem capital, mas o crescimento acelerado da cidade, especialmente entre as décadas de 1940 e 1960, colocou o monumento no centro de debates sobre reorganização do trânsito e expansão do Centro.

O episódio mais emblemático dessa vida turbulenta ocorreu em 1963, quando o Obelisco foi removido da Praça Sete e transferido para a Praça Afonso Arinos. A justificativa oficial era adequar o espaço ao novo fluxo de veículos e às transformações urbanas, mas a população reagiu de forma imediata. Para muitos belo-horizontinos, a Praça Sete havia perdido parte de sua alma sem o Pirulito no centro. O cruzamento parecia descaracterizado, a referência visual havia desaparecido, e o cotidiano da cidade parecia estranhamente “desalinhado”. Jornais da época registraram críticas intensas e um sentimento coletivo de insatisfação, revelando que o monumento já fazia parte do imaginário afetivo da capital.

Com o tempo, essa pressão popular pesou mais do que qualquer argumento técnico, e o Obelisco foi finalmente recolocado em seu local original, restituindo à Praça Sete a identidade que lhe faltava. Seu retorno foi percebido não apenas como uma correção urbana, mas como uma vitória simbólica: a confirmação de que o monumento era indispensável para o sentido de lugar e pertencimento da cidade.

Além dos deslocamentos, o Obelisco passou por diversas intervenções de restauração, limpeza e reorganização do entorno, acompanhando as inúmeras fases de modernização do Centro. Mesmo sujeito ao desgaste provocado pelo trânsito intenso, pela poluição e pela movimentação diária de milhares de pessoas, o monumento manteve sua estrutura, sua imponência e seu papel simbólico.

Durante sua permanência no coração da cidade, o Pirulito testemunhou manifestações políticas históricas, celebrações cívicas, conquistas esportivas, atos culturais e uma infinidade de encontros cotidianos marcados com a frase “te vejo no Pirulito”. Tornou‐se, assim, um observador silencioso e permanente da vida urbana, registrando em sua existência as transformações de Belo Horizonte.

A trajetória conturbada do Obelisco revela, em última análise, que ele nunca foi apenas um monumento decorativo. Sua vida, marcada por idas, vindas e restaurações, espelha a própria evolução da cidade: dinâmica, por vezes caótica, mas sempre ligada à preservação de símbolos que definem sua identidade. Hoje, firmemente posicionado em seu lugar de origem, ele reafirma sua condição de marco essencial do Centro e de personagem vivo da história de BH.

💡 Ficha Técnica do Obelisco da Praça Sete

• Ano de Construção: 1922
• Motivação: Centenário da Independência
• Função: Marco Zero de Belo Horizonte
• Altura Estimada: Aproximadamente 7 metros
• Material: Granito
• Estilo: Obelisco clássico / influência neoclássica
• Apelido Popular: “Pirulito”
• Localização: Cruzamento entre Av. Afonso Pena e Av. Amazonas

O Monumento que Conta a História de BH

O Obelisco da Praça Sete de Setembro, mais conhecido como “Pirulito”, é um dos raros monumentos capazes de condensar em si a trajetória completa de uma cidade. Belo Horizonte nasceu planejada, moderna e ambiciosa, e foi exatamente no coração desse projeto — no cruzamento das avenidas Afonso Pena e Amazonas — que o monumento foi erguido em 1922. Desde então, o Obelisco não apenas ocupou o centro geográfico da capital, mas também se tornou o centro simbólico de sua identidade.

Ao longo das décadas, o monumento presenciou transformações profundas: o crescimento vertiginoso da cidade, a movimentação dos bondes, a chegada dos ônibus, a verticalização dos prédios, as reformas urbanas, as remoções polêmicas e os retornos triunfais. Todos esses momentos deixaram marcas na paisagem e nos moradores, e o Obelisco esteve lá como observador constante e silencioso.

Sua forma simples — um fuste vertical de granito, com ponta afilada — reflete não apenas um estilo arquitetônico, mas um ideal. Ele representa a ascensão, o progresso e a continuidade histórica. Não é uma peça decorativa: é um ponto de referência absoluto, uma bússola urbana que organiza caminhos e histórias. Os belo-horizontinos não dizem “naquele cruzamento”, mas sim: “no Pirulito”. Assim, o monumento transcende seu material e sua função formal para se tornar parte da maneira como a cidade se orienta, se identifica e se reconhece.

Como testemunha de protestos, celebrações, encontros e despedidas, o Obelisco carrega consigo memórias coletivas que só monumentos verdadeiramente enraizados conseguem preservar. Ele é lembrança viva de que Belo Horizonte foi concebida para ser uma cidade moderna e organizada, mas que, ao longo do tempo, também desenvolveu identidade, afeto e vínculos culturais únicos.

Por isso, ao visitar a Praça Sete, parar por alguns instantes diante do Obelisco significa muito mais do que apreciar uma peça de granito: é reencontrar a história, entender o pulsar do Centro e sentir a essência da capital mineira. O Pirulito é, afinal, o monumento que conta — sem palavras, mas com presença — a própria história de Belo Horizonte.