História da Praça Sete de Setembro

A Praça Sete de Setembro, situada no coração de Belo Horizonte, é mais do que um ponto de cruzamento urbano — é um símbolo vivo da criação, transformação e consolidação da capital mineira. Desde o final do século XIX, quando Belo Horizonte ainda dava seus primeiros passos como cidade planejada, a praça se firmou como o eixo que organiza a malha urbana, orienta o fluxo da população e guarda a memória dos grandes acontecimentos da cidade.

Ao longo de mais de um século, o espaço testemunhou inaugurações solenes, mudanças urbanísticas profundas, manifestações políticas e encontros cotidianos que, juntos, contam a história de uma capital moldada por modernidade, civismo e crescimento contínuo. Conhecer a Praça Sete é revisitar a própria trajetória de BH — suas origens, seus símbolos e sua identidade.

O Nascimento do “Marco Zero”

A origem da Praça Sete de Setembro está profundamente entrelaçada com o próprio nascimento de Belo Horizonte, planejada para ser a nova capital de Minas Gerais no final do século XIX. Entre 1894 e 1897, durante a construção da cidade, a praça foi concebida como elemento central do traçado urbano idealizado pelo engenheiro Aarão Reis, que se inspirou em modelos modernos de urbanização adotados em cidades como Washington, Paris e La Plata.

Nesse contexto, a Praça Sete não foi criada ao acaso: ela ocupou desde o início uma posição estratégica na malha do recém-planejado município. Localizada na interseção entre a Avenida Afonso Pena e a Rua Rio de Janeiro, o ponto foi escolhido para funcionar como eixo de referência espacial — um local destinado a orientar o fluxo urbano e estabelecer a hierarquia das vias principais. Desde o primeiro desenho da planta oficial, a praça já aparecia como um espaço monumental, pensado para simbolizar ordem, modernidade e racionalidade, valores essenciais ao projeto republicano da nova capital.

Nos primeiros anos do século XX, a região onde se encontrava a futura Praça Sete era marcada por construções baixas, amplas avenidas arborizadas e uma atmosfera de cidade jovem, recém-inaugurada. O urbanismo geométrico, com ruas retas e quarteirões regulares, reforçava a ideia de progresso e civilização que Belo Horizonte pretendia transmitir ao país. Assim, muito antes de receber o Obelisco, o local já funcionava como um marco simbólico — um centro de circulação, de referenciamento e de identidade para os moradores da nascente capital.

Com o passar do tempo, esse ponto central, inicialmente apenas um cruzamento planejado, evoluiu e ganhou protagonismo, acompanhando a expansão da cidade. E seria justamente esse lugar, nascido como referência topográfica e arquitetônica, que mais tarde consolidaria sua posição como o verdadeiro Marco Zero de BH, núcleo simbólico e geográfico da capital mineira.

A Escolha do Local e o Traçado Inicial

A definição do local onde se estabeleceria a futura Praça Sete de Setembro foi resultado de um cuidadoso processo técnico conduzido entre 1894 e 1897, durante a elaboração do plano urbanístico da nova capital mineira. Sob a liderança do engenheiro Aarão Reis, a Comissão Construtora examinou extensas áreas do antigo arraial do Curral del Rey para identificar pontos estratégicos capazes de sustentar uma cidade moderna, funcional e alinhada aos ideais republicanos da época.

A escolha recaiu sobre o cruzamento das atuais Avenida Afonso Pena e Rua Rio de Janeiro por razões que iam além da simples centralidade geográfica. A topografia do local era considerada ideal: um terreno relativamente plano, bem ventilado e com visibilidade ampla para todos os lados, características que favoreciam tanto a circulação quanto a monumentalidade desejada para a nova capital. Além disso, esse ponto oferecia uma posição privilegiada dentro da quadrícula planejada, garantindo acesso fácil e equilibrado às principais áreas residenciais, administrativas e comerciais previstas no plano.

No traçado inicial da cidade, inspirado em modelos internacionais como o de Washington D.C., a Praça Sete foi pensada como um nó articulador da malha urbana. As avenidas que convergiam para o local — largas, lineares e arborizadas — refletiam o ideal de modernidade que guiou a criação de Belo Horizonte. A praça, nesse cenário, funcionaria como elemento de orientação espacial, servindo de referência para a distribuição das quadras e para o fluxo entre os diferentes setores da cidade.

Nos primeiros anos, a região apresentava uma paisagem marcada pelo urbanismo geométrico e pelas construções padronizadas de um município recém-inaugurado. Antes mesmo de ganhar monumentos e simbolismos cívicos, o espaço já carregava a função de centro de referência — um ponto pensado para ser percebido, localizado e utilizado como marco pelos primeiros moradores.

Com esse traçado racional e estratégico, a futura Praça Sete se consolidava, desde o nascimento da cidade, como um lugar destinado a exercer protagonismo. O que inicialmente era apenas um cruzamento projetado logo se tornaria um dos espaços urbanos mais emblemáticos da história de Belo Horizonte, ocupando para sempre sua posição como o verdadeiro núcleo simbólico da capital mineira.

A Praça Sete Antigamente

A Praça Sete de Setembro surgiu como o ponto central do plano urbano de Belo Horizonte no início do século XX, quando a cidade ainda dava seus primeiros passos. Na época, o entorno era mais aberto, com poucos prédios altos e avenidas Afonso Pena, Amazonas, Rio de Janeiro e Carijós começando a assumir o papel de vias estruturadoras da nova capital.

A instalação do Obelisco em 1922, em comemoração ao centenário da Independência, transformou a paisagem e consolidou a praça como marco visual e geográfico da cidade. Ao longo das décadas, o local se tornou cenário de desfiles cívicos, manifestações culturais, encontros populares e da expansão do comércio central — que mais tarde incluiria cinemas, galerias, confeitarias e lojas de departamento que marcaram gerações.

Relembrar a Praça Sete de Setembro antigamente é revisitar uma BH em formação, onde o cruzamento que hoje movimenta milhares de pessoas diariamente já mostrava sinais de que se tornaria um dos símbolos mais fortes da identidade belo-horizontina. Cada mudança no centro deixou sua marca, mas a praça permaneceu como referência histórica e afetiva para moradores e visitantes.

O Obelisco – O Ícone de 1922

A consolidação simbólica da Praça Sete de Setembro ocorreu com a chegada de seu monumento mais emblemático: o Obelisco, popularmente conhecido como Pirulito. A origem desse marco está diretamente ligada às comemorações do Centenário da Independência do Brasil, celebrado em 1922, quando diversas cidades do país inauguraram obras cívicas destinadas a perpetuar o espírito patriótico e o ideal republicano do período.

Embora Belo Horizonte só tenha instalado o monumento em 7 de setembro de 1924, a escultura foi produzida especialmente para integrar as festividades nacionais. Confeccionado em granito polido, o Obelisco possui linhas sóbrias e elegantes, seguindo referências neoclássicas comuns em monumentos comemorativos da época. Sua estética, simples e monumental, tinha o objetivo de transmitir solidez, permanência e reverência à data histórica que representava.

A escolha da Praça Sete de Setembro como local de instalação não foi aleatória. Como ponto central do traçado urbano e referência espacial da cidade, a praça simbolizava, por si só, a união entre civismo e modernidade. Assim, posicionar ali o Obelisco reforçava a intenção de marcar o coração urbano como espaço de memória coletiva e identidade cívica. Desde sua inauguração, o monumento passou a ser entendido como o Marco Zero de BH, mesmo que esse título tenha se consolidado mais por uso popular do que por determinação oficial.

Ao longo do século XX, o Pirulito atravessou diversas fases. Com o crescimento do tráfego e as intervenções urbanas na Avenida Afonso Pena, o monumento chegou a ser removido temporariamente em alguns períodos, sendo reinstalado posteriormente, sempre retornando ao seu posto central. Sua resistência às mudanças físicas e funcionais da área contribuiu para reforçar sua presença histórica e afetiva. Mesmo quando deslocado, ele permanecia associado à Praça Sete, como se o espaço e o monumento formassem uma unidade indissociável.

Mais do que um memorial ao Centenário da Independência, o Obelisco da Praça Sete de Setembro tornou-se um símbolo cultural profundamente enraizado no imaginário belorizontino. Para gerações de moradores, ele não representa apenas um marco histórico, mas também um ponto de encontro, um lugar de referência e um elemento que sintetiza o movimento constante da cidade. Sua imagem atravessou décadas, fotografias, cartões-postais e celebrações populares, consolidando seu papel como o ícone definitivo da Praça Sete de Setembro e como um dos maiores emblemas da história urbana de Belo Horizonte.

Transformações e o Coração Urbano

Ao longo das décadas, a Praça Sete de Setembro passou por transformações profundas que acompanharam o crescimento acelerado de Belo Horizonte e as mudanças na dinâmica de suas funções urbanas. O que começou como um cruzamento planejado dentro de uma cidade recém-inaugurada evoluiu para um dos espaços mais movimentados, emblemáticos e simbólicos da capital mineira. Cada fase do desenvolvimento da praça reflete um capítulo da história urbana de BH — desde a modernização do transporte até a verticalização do Centro e as sucessivas intervenções arquitetônicas que moldaram sua fisionomia atual.

A primeira grande mudança ocorreu entre as décadas de 1930 e 1950, quando a capital começou a adotar características de uma metrópole moderna. A Avenida Afonso Pena, já projetada como um eixo monumental, tornou-se uma das principais artérias de circulação da cidade. Com o aumento do fluxo de bondes e posteriormente de ônibus, a Praça Sete se consolidou como um ponto de encontro entre diferentes rotas e um polo de intensa mobilidade urbana. O trânsito, que inicialmente era leve e organizado, tornou-se progressivamente mais intenso, transformando a praça em um verdadeiro termômetro do movimento do Centro.

A verticalização do entorno — marcada pela construção de edifícios icônicos, como o Edifício Acaiaca em 1943 — alterou profundamente a paisagem urbana. A praça passou a ser enquadrada por grandes estruturas, espelhando o crescimento demográfico e econômico de Belo Horizonte. Esses edifícios não apenas reformularam a estética da região, como também ampliaram sua importância comercial, aproximando-a de sedes empresariais, lojas tradicionais, galerias e serviços essenciais da vida cotidiana.

Com o adensamento urbano, a praça também experimentou mudanças em sua própria configuração física. O famoso Obelisco, símbolo central da Praça Sete, passou por momentos de deslocamento ao longo do século XX. Em algumas intervenções viárias, foi retirado temporariamente, apenas para retornar posteriormente ao seu devido lugar no centro da praça. Esse movimento reforçou ainda mais seu status de elemento fundamental da memória urbana: mesmo quando ausente, sua falta era sentida, e sua reinstalação sempre representava uma reafirmação da identidade do local.

À medida que Belo Horizonte crescia, outras adaptações se tornaram necessárias. Reformas paisagísticas, reorganização dos pontos de ônibus, adequações viárias e melhorias de acessibilidade foram introduzidas para acompanhar as demandas de uma cidade em constante transformação. Embora a praça tenha perdido algumas características antigas — como o ambiente mais aberto e arborizado das primeiras décadas —, ela ganhou novas funções, tornando-se um dos centros nervosos da vida urbana.

O Papel da Praça como Palco de Manifestações e Eventos Históricos

Mais do que um espaço arquitetônico, a Praça Sete se consolidou como um dos principais palcos sociais e políticos de Belo Horizonte. Desde meados do século XX, o local foi cenário de manifestações populares, movimentos estudantis, atos democráticos, encontros culturais e eventos cívicos. Greves históricas, comícios, celebrações esportivas, festividades de fim de ano e manifestações espontâneas encontraram na praça um espaço propício para reverberar a voz da população.

O caráter simbólico do local — associado ao Marco Zero, ao Obelisco e à intensa circulação de pessoas — fez da Praça Sete um lugar natural para a expressão coletiva de ideias, emoções e reivindicações. Ao longo do tempo, consolidou-se como um verdadeiro espelho da sociedade mineira, refletindo suas lutas, celebrações e transformações socioculturais.

Assim, as transformações da Praça Sete não se limitaram ao espaço físico ou ao crescimento urbano ao seu redor. Elas também ocorreram no plano simbólico: a praça tornou-se um coração pulsante de Belo Horizonte, onde história, cotidiano e identidade se encontram em constante movimento. É um espaço que, mesmo mudando continuamente, preserva seu papel como ponto de referência, encontro e memória — um território onde o passado e o presente convivem de forma vibrante e permanente.

Memória, Identidade e Preservação

A Praça Sete de Setembro representa, para Belo Horizonte, muito mais do que um ponto de circulação ou um marco viário. Ela é um espaço onde a história, o cotidiano e a identidade urbana se entrelaçam de maneira profunda e permanente. Cada mudança arquitetônica, cada monumento instalado, cada manifestação que ali ocorreu e cada geração que atravessou suas calçadas contribuiu para formar um mosaico complexo de significados. É nesse sentido que a Praça Sete se afirma como um dos territórios simbólicos mais importantes da capital, um local no qual a memória coletiva se materializa e se renova continuamente.

A preservação desse espaço passa, antes de tudo, pelo reconhecimento de seu papel como núcleo histórico da cidade. O Obelisco, a malha urbana que o circunda, a dinâmica do comércio popular e o movimento incessante de pedestres fazem da praça um registro vivo das transformações de Belo Horizonte desde o final do século XIX. Esse patrimônio não se resume a elementos físicos, mas também engloba o conjunto de vivências que moldaram a relação afetiva dos belo-horizontinos com o local. A Praça Sete é, em essência, uma síntese da própria cidade — moderna e tradicional, dinâmica e histórica, funcional e simbólica.

Preservar a Praça Sete significa, portanto, compreender que sua importância vai além da estética ou do valor arquitetônico. É garantir a continuidade de um espaço onde as experiências urbanas são compartilhadas, onde a temporalidade da cidade se faz visível e onde as histórias individuais se somam à memória coletiva. Essa preservação também implica refletir sobre a necessidade de proteger o que ela representa: um lugar aberto, democrático e acessível, que abriga manifestações culturais, encontros espontâneos e momentos que marcam a vida cotidiana.

Em uma cidade em constante transformação, a manutenção de lugares como a Praça Sete não é apenas um gesto de proteção do passado, mas também um compromisso com o futuro. Ao conservar seu papel de referência urbana e cultural, Belo Horizonte reafirma sua identidade, reforçando a ligação entre suas raízes e seu desenvolvimento.

A Praça Sete de Setembro permanece como um espaço onde o passado dialoga com o presente, lembrando-nos da importância de valorizar nossos marcos históricos para que continuem a iluminar os caminhos da cidade nos anos que virão.